“Logo Ali”: um filme sobre África do Sul. Retrato da desigualdade social e segregacionismo, mesmo no Pós-Apartheid

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Em tempos de rasas polarizações nas discussões sobre políticas públicas e de segurança no país, é de se exaltar as iniciativas que buscam promover uma reflexão mais profunda e de acordo com a complexidade dos diferentes tecidos sociais. Assim nasceu o documentário “LOGO ALI” – África do Sul, no qual o policial civil do Rio de Janeiro, Beto Chaves, que vive diariamente a guerra contra as drogas no Rio, visita o país sul africano, numa busca de conhecer as histórias das pessoas e, principalmente, discutir sobre o que a liberdade significa hoje para cada. E o que esperam do futuro do seu país, o documentário trata de uma metáfora da relação de espaço e tempo, do que une e do que separa a humanidade.

Na relação África do Sul – Brasil, a distância geográfica parece desaparecer quando surgem temas como preconceito, diferenças sociais, drogas, arte, cultura, educação, tradições, juventude e empreendedorismo. LOGO ALI também se refere a datas de acontecimentos históricos como o Apartheid, o fim do regime que durou 40 anos, a libertação de Mandela e sua recente morte. É um filme sobre pessoas comuns e pensamentos extraordinários, é sobre uma sociedade que ainda engatinha numa nova democracia. O filme mostra como a população busca virar a página da segregação. Uma das grandes dificuldades é a sombra do racismo que ainda paira na África do Sul pós-apartheid e a desigualdade resultante dela, mas que, segundo Chaves, está em transformação e andamento.“O que ficou bacana de mostrar é que há processos, que a gente às vezes não respeita. Devemos ter maturidade de entender que se o processo está em andamento, estamos ganhando. O que não podemos é retroceder, mas se está caminhando temos que potencializar este processo”, explica.

O documentário entrevista quase 40 pessoas e tem os dois lados da moeda: a África do Sul branca, dona da riqueza e detentora de grande parte do país; e os negros, moradores das townships, habitações humildes nas periferias do país criadas para segregar territorialmente os negros durante o Apartheid. Nos dois lados, o sentimento é de que muita coisa ainda precisa ser feita. No lado mais favorecido da história, resquícios da política racista ainda persistem. Assita ao trailler

“É uma história de pessoas, de heróis anônimos, tem a linha do Apartheid, mas não é só isso. O filme mostra a riqueza escondida no meio de todos nós”, reflete Chaves, traçando um paralelo com a jovem democracia brasileira: “a África do Sul e nós somos muito parecidos em nossas mazelas e riquezas. A sombra do Apartheid ainda existe, é tudo muito novo. O regime começa em 1948 e acaba em 1990. Olha para o Brasil, tudo o que aconteceu, a nossa constituição da República tem 30 anos. É muito pouco tempo para dizer que a questão do racismo está resolvida. A nossa democracia aqui é jovem, lá também”, compara.

Financiamento coletivo para lançar documentário

Com as dificuldades existentes para quem faz cinema no país, os realizadores do documentário tentam levantar recursos de forma coletiva para divulgá-lo e levá-lo aos cinemas e festivais do Brasil e do mundo.

“O mais bacana foi a ação de realizar, mas tem o mérito de ele estar pronto e disponível para as pessoas. Realizar é difícil, mas realizar cultura é muito mais difícil, ainda mais em nosso país. Documentário é meio marginal, não tem a grande audiência, é mais difícil captar recurso, carece um pouco disso, da necessidade de formar público”, disse ao explicar que a ideia de fazer o filme com o designer Léo Santos “foi uma grande boa conspiração do universo.”

O dinheiro arrecadado será usado para levar o documentário aos cinemas, além de produzir material gráfico, divulgação online, assessoria de imprensa, palestras em escolas públicas e universidades, inscrições e participações em festivais de cinema. Mas a principal meta é garantir presença no Festival de Durban, na África do Sul, na mesma data em que se comemora o centenário de Nelson Mandela, no dia 18 de julho.

As recompensas para quem ajudar vão desde o nome nos créditos finais do documentário, acesso online ao filme em primeira mão, até convites para a pré-estreia, variando de R$ 25 a R$ 250. Até o momento, a campanha arrecadou mais de R$ 41mil, mas a meta é chegar aos R$ 70 mil até o dia 6 de abril. Para colaborar e fazer parte deste projeto, basta acessar http://www.querovernocinema.com/

Sobre o diretor, Beto Chaves

Beto é Policial Civil no Rio de Janeiro, já participou de incontáveis operações policiais de combate às drogas, numa cidade completamente marcada e dividida numa guerra civil não declarada. Desde os primeiros dias em sua carreira policial,  desejou fazer diferente, criou um programa dentro da Polícia Civil que iria na direção contrária, rompendo com a repetição do sistema repressivo ao qual estava inserido e ao rumo tomado desde a fundação de sua instituição, criando assim o Papo de Responsa. “Responsa” é uma gíria carioca que significa responsabilidade, seriedade e objetividade. Esse programa visa o diálogo e uma escuta absolutamente generosa, entre diferentes, como “arma” fundamental para o alcance da empatia, assim resultando na prevenção da violência e na aproximação da sociedade com a polícia de forma natural, derrubando os muros invisíveis que separam as pessoas, numa conversa franca e aberta, visita escolas, universidades, igrejas, associações de moradores, dividindo suas experiências pessoais e profissionais, aproximando pessoas de pessoas. Com o Papo de Responsa, Beto tornou-se conhecido por todo o Brasil e viajou por 31 países, provando que é possível rompermos com os esteriótipos e repensarmos o preconceito

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